Alguma coisa não está bem

Preocupou-me bastante o índice de negativas nos resultados do concurso público que foram publicados recentemente, um pouco por todo o país.

Desde que pousei os olhos nas pautas daqui do Namibe, e naquilo que vi pelos órgãos de comunicação social e nas redes sociais, não parei de pensar nesses resultados. Por exemplo, na terça-feira passada, 24 de Julho de 2018, o programa Jornal da Tarde da TPA1 noticiou que dos 3 mil candidatos que fizeram exame na província do Bengo 70% foram reprovados. Vi, no mesmo dia, ainda neste jornal, imagens de pautas de alguns cantos de Luanda onde o vermelho predominava. Da Huíla, vários amigos partilharam nas redes sociais imagens de pautas onde as notas eram péssimas e predominava o índice de reprovados.

Olhando para resultados tão desanimadores, penso eu, que estamos diante de um problema sério e que precisa ser reflectido por todos. Aos candidatos deste concurso público exigiu-se, sobretudo, que tivessem formação em Educação, salvo algumas excepções que eram relativas a cursos cujas especialidades extrapolavam a formação que se recebe nas Instituições de Formação de Professores. A base desse concurso era que os candidatos tivessem feito o Ensino Médio ou o Ensino Superior em Instituições de formação de professores.

Entretanto, chegados até aqui, deparamo-nos com uma grande maioria vinda de Instituições onde se formam professores a apresentarem resultados péssimos. Deparamo-nos com um tanto de notas a rondarem entre 0 a 6 valores. Como se explica, olhar para uma pauta de pouco mais de 300 pessoas a concorrem e chegarmos perto de 10 notas positivas? Onde é que está o problema?

Os alunos é que são os preguiçosos? Os alunos é que foram os preguiçosos e menos dedicados durante os anos de formação? As provas foram muito difíceis? As comissões que elaboraram as provas queriam dificultar a vida aos candidatos? As pessoas que corrigiram, em simultâneo, nas diferentes disciplinas, nos vários cantos do país, decidiram atribuir notas baixas a maior parte dos candidatos? A formação dos candidatos é questionável? A formação dos ex-professores dos candidatos é que é a questionável? As Instituições de Formação de Professores têm funcionado em condições? O NOSSO SISTEMA DE ENSINO tem funcionado? A base do nosso Sistema de Ensino tem funcionado? Onde é que está o problema?

Se temos esse tipo de classificações a nos serem esfregadas à cara, penso que, é um sinal de que alguma coisa não está bem. Então, precisamos sentar, como se estivéssemos à sombra de uma mulemba, para conversar sobre o futuro da nossa Educação. Atrevo-me a dizer: sobre o futuro do nosso país. Aflige-me pensar e ver que os resultados de um período de formação nas nossas Instituições de Formação de Professores nos sejam, posteriormente, apresentados desta maneira.

Não estou a dizer que não existiram e não existem excelentes alunos e excelentes professores nessas Instituições, não é isso. Passei por uma Escola de Formação de Professores no ensino médio e também por um Instituto Superior de Ciências de Educação na faculdade, enche-se-me de alegria o coração quando me lembro de alguns excelentes professores que tive no meu período de formação. Mas, o que me preocupa aqui é a maioria e não as excepções; e a maioria perfaz o vermelho gritante nas pautas, a maioria está a atirar-nos à cara que alguma coisa não está bem e nós precisamos sentar, em conjunto, para conversar com sinceridade.

Muito do que aprendi nos últimos anos, nas Instituições onde passei, resume-se no facto do quão a Educação é importante para o desenvolvimento, a todos os níveis, de um país. A Educação é a maior e melhor herança que uma pátria pode deixar aos seus filhos. Mas essa Educação constrói-se com a ajuda de todos. Para deixarmos essa herança segura e com qualidade precisamos de ter agentes (professores) no Sistema de Ensino/Educação, em primeiro lugar, devidamente formados e, a seguir, comprometidos com a passagem de tal herança. Como vamos construir um caminho de Excelência quando os agentes implicados directamente nesse processo de construção apresentam-se no final da formação dessa maneira?

Que não se entenda essa abordagem como uma crítica a forma como o processo de selecção dos candidatos decorreu. Foi, dessa vez, um processo cuja seriedade notou-se em muitos aspectos e é assim que deve ser daqui para frente, nos próximos concursos públicos para o sector da Educação. A preocupação aqui não é com o processo de concurso mas com o que acontece antes dele. Creio que concorrem vários factores para termos chegado até aqui. Reitero, reitero, que precisamos sentar e falar sobre isso de forma sincera. Eu levanto a mão e voluntario-me para fazer parte dessa conversa.

Os sinais estão-nos a ser dados, devemos dar importância a eles. Pensemos todos não só em nós mas no futuro. Recuso-me a aceitar de ânimo leve que a Educação do nosso país está e estará nas mãos de agentes com uma formação deficiente. Pensemos todos que os professores e as pessoas que passam por eles são e serão servidores públicos nas diferentes áreas que se completam para alavancar o país, nesse caso, de uma forma ou de outra a qualidade da formação que tanto alunos como professores recebem diz respeito a todos. Estamos numa máquina onde, mesmo que não nos vejamos a todos, cruzamo-nos de alguma forma nalgum sítio de serviço ao público. Então, pensemos todos no que queremos para hoje e para amanhã!

3 comentários sobre “Alguma coisa não está bem

Deixe um comentário