Há Esperança?

Há quase dois anos tenho pensado constantemente na palavra Esperança. Vários dicionários a definem como um sentimento de quem vê ser possível a realização daquilo que deseja; ou como a confiança de que coisas boas podem acontecer; ou simplesmente como o ato de ter fé. Eu tenho pensado na Esperança como a única coisa que não pode morrer dentro de mim. Penso muitas vezes que se a deixar morrer será o fim, o fim de tudo. Porque se uma pessoa não tem Esperança, se já não acredita, se já não tem fé, ela desiste. Desiste de si, das outras pessoas, de tudo que está à sua volta.

No entanto, infelizmente, num país como o nosso a Esperança custa caro: custa-nos energias físicas e emocionais, custa-nos tempo e uma busca infinita de forças para nos conseguirmos manter em pé a lutar por dias melhores. Queria eu viver num país onde acreditar no bem-comum não doesse tanto…

Em Angola, todos os dias a nossa Esperança luta contra inúmeras adversidades para se manter viva. E se somos de contextos onde vivenciamos diferentes níveis de pobreza essa luta é ainda maior. As adversidades lembram-nos da fome no prato da criança; da mãe a pedir esmolas para os filhos na esquina lá da rua; das crianças que não aprendem o ABC porque as salas de aulas não chegam; do hospital que não tem médicos e medicamentos suficientes para todas as pessoas; da luz que sempre vai; da água que nunca chega de todo às torneiras; da seca ali naquela região que também é nossa; do jovem que não é considerado cidadão porque não consegue emitir o B.I na sua localidade; da televisão que não passa as verdades; e do polícia que bate na zungueira sem perceber que estão no mesmo barco. Essas adversidades lembram-nos também que muitas vezes o nosso acesso ao básico precário dos serviços sociais está condicionado a termos determinado sobrenome, determinada filiação partidária e determinada rede de contactos.

Como manter a esperança num país em que “somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros”? Honestamente, não sei qual a resposta para esta pergunta. Mas acredito que não podemos simplesmente desistir, não podemos simplesmente olhar para o aqui e o agora e agir como se o colectivo não importasse, como se ter um país que funcione bem, em todos os campos, não fosse beneficiar a todas e todos, principalmente àquelas e àqueles que no quotidiano vivem em situação de precariedade socioeconómica.  

É o colectivo que tem de nos dar forças: não podemos desistir uns dos outros e das outras. Este país é nosso! Mesmo que hajam pessoas ambiciosas e corruptas que há anos tentam fazer-nos crer no contrário. Este país é nosso: não temos outro pelo qual lutar, não temos outro em que acreditar. A nossa Esperança deve fazer-nos acreditar nele e, acima de tudo, não parar de lutar por ele. Haverão dias extremamente difíceis, mas quando assim for espero que consigamos encontrar lugares e pessoas que nos confortem, que nos ajudem a recarregar baterias e a seguir.

Eu queria viver num país onde ter Esperança não me custasse tanto…! Queria mesmo. Mas sigo, sigo só. Acredito em dias com mais luz. Não tem outro jeito!

Eu sei que é difícil, mas peço-vos por este país que é de todos e todas: por favor, mantenham a vossa Esperança!

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